Macaíba

"Macaíba terra amada/ Histórica é uma beleza/ Filhos ilustres aqui brotam/ Manancial de nobreza/ Desde a sua fundação/ Desse solo, desse chão/ Tidos como realeza."

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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Mestre Lucas Teixeira


Aos 89 anos, mestre Lucas leva consigo a incerteza de continuidade do grupo de São Gonçalo.
Sérgio Vilar // sergiovilar.rn@dabr.com.br
Diário de Natal. 13 de Julho/2010

Menos de um mês da morte da romanceira Militana Salustino, São Gonçalo do Amarante amarga a morte de outro ícone da cultura popular da cidade. Lucas Teixeira de Moura morreu na noite de domingo(11/07)aos 89 anos, vítima de acidente vascular cerebral. De acordo com familiares há dois meses ele sofreu o primeiro AVC e desde então recebia acompanhamento médico. No último dia três deu entrada no hospital Walfredo Gurgel onde ficou internado, O mestre foi homenageado durante a missa de corpo presente realizada no Teatro Municipal. O enterro foi às 16h de ontem no cemitério público de São Gonçalo do Amarante. Mestre Lucas iniciou suas atividades aos oito anos de idade com os caboclinhos de Milharada, atuou como contra-mestre do Boi Calemba de Pedro Guajiru, dançou Fandangos e Bambelô e por último comandava os Congos de São Gonçalo.


Ele comandou esta vertente de congada até 2008, quando parou as atividades por problemas de saúde e pela falta de interesse dos jovens Foto: D´Luca/DN/D.A Press
Em abril de 2009, o Diário de Natal esteve na humilde casa de Mestre Lucas, antes da visita agendada à casa de Dona Militana. A ideia era promover o encontro dos dois, junto com o folclorista Deífilo Gurgel, que acompanhava a equipe. O que parece sina impediu o encontro histórico. O mestre reclamou de "canseira" nas pernas e da catarata no olho. Apesar do físico ainda forte e da memória sã, Lucas preferiu o (des)conforto do lar - uma casa pobre à margem da principal avenida do município, enquanto aguarda amparo do poder público ou a então regulamentação da Lei do Patrimônio Vivo que não o contemplou a tempo.

O Congo de Saiote é manifestação popular herdada dos escravos africanos brasileiros. Não há registros de grupos semelhantes na África. A dança era incentivada pelas autoridades para manter a ordem nas senzalas. É que os negros se confortavam em assistir seus reis coroados nas congadas. Há várias vertentes do Congo praticadas de Norte a Sul do país. O de Saiote reúne elementos temáticos africanos e ibéricos, transformados em cortejo real. Costumava animar festas em louvor a Nossa Senhora dos Rosários. A encenação teatral unida à dança retrata uma cerimônia de coroação de reis escravos. Outro grupo autêntico no estado para este folguedo é capitaneado pelo mestre Correa, na Vila de Ponta Negra, em Natal. É o Congo de Calçola.

Desinteresse

Mestre Lucas comandava esta vertente de congada em São Gonçalo até 2008. Os problemas de saúde aliado à falta de interesse dos jovens paralisaram as apresentações do grupo. O irmão Sérvulo, antigo embaixador e contramestre, tentou dar prosseguimento, mas também fracassou com problemas de saúde. "Ainda tentei arrumar pessoal de Santo Antônio, mas não consegui. Imaginei ainda fazer um Congo só de menino de uns 12 anos, mas ninguém quis. Hoje não tem ninguém. Passei cinco anos ensinando os brincantes a cantar. Ninguém aprendeu. Sabem nem pra onde vai. Eu mesmo nunca me esqueci de nenhuma", disse Lucas à época.

Ao todo são 25 jornadas cantadas pelo Congo de Saiote, algumas de longas estrofes. Contam a história da batalha do rei Henrique Cariongo para libertação dos escravos no Congo. Seo Lucas sabe decorado todas elas. Está tudo gravado por Deífilo Gurgel. A herança destas congadas foi repassada pelo quase lendário João Menino, responsável pela apresentação mais comovente aos 82 anos de Deífilo Gurgel, aplaudido de pé no Teatro Alberto Maranhão. João Menino morreu em 1978. Até então Lucas também brincava como contramestre no Boi Calemba de mestre Atanásio, também em São Gonçalo. É figura rica de conhecimentos da chamada cultura popular. No início da década de 80 comadou o Congo até o ano passado.