Na infância do cordelista e professor norte-rio-grandense Hailton Alves
Ferreira, todos os sábados à tarde eram reservados para uma tradição
familiar. Ao voltar da feira-livre com as compras, sua mãe, dona Josefa,
professora primária, reunia os 11 filhos sentados em círculo, à sombra
da mangueira do quintal, para ler uma nova história de cordel. Hailton, o
mais novo dos irmãos, empolgava-se com aquele tipo de literatura,
recheado de desenhos em preto e branco, as tradicionais xilogravuras,
que preenchiam os pequenos cadernos coloridos.
Ainda
menino, Hailton não abandonou o esconde-esconde, o pega-pega, o “tô no
poço” (também conhecido como passa-anel). Certa vez, criou um curral de
brinquedo a partir de frutas verdes espetadas com gravetos. E lhe
bastavam um caderno e um lápis por perto para a rima vir fácil. O
cordel, gênero literário popular, escrito geralmente em estrofes, o
marcou tanto que se tornou sua profissão. Hailton trocou o sobrenome por
Mangabeira, em alusão direta à comunidade rural da cidade de Macaíba
(RN), onde nasceu e vive até hoje, aos 41 anos, dando aulas em uma
escola municipal. Em sala de aula, faz questão de trabalhar com a
literatura de cordel e o violão, outra herança – essa deixada pelo pai,
seu Manoel, consertador do instrumento.
“Nós não podemos nos esquecer do que o grande educador Paulo Freire, hoje Patrono da Educação Brasileira,
dizia: a leitura do mundo precede a leitura da palavra. É por isso que a
influência da cultura local ficou tão marcada na minha vida e deve
continuar na vida das crianças”, conta. Recitais, cordéis e versos,
acredita ele, além de trabalhar a cultura regional, são facilitadores
para o processo de alfabetização do aluno. “Não é só ler por ler, é ler
para entender”, diz Mangabeira. Orgulhoso, relata que muitas mães já
vieram lhe agradecer pelo fato de o trabalho com o cordel “ter
desenrolado muito fácil” a leitura e a escrita na vida de seus filhos.
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