Publicação: 29 de Junho de 2011 às 00:00
Yuno Silva
repórter
O velho ditado popular 'casa de ferreiro, espeto de pau' ronda os grupos folclóricos e de cultura popular do Rio Grande do Norte, que pelejam para garantir o transporte e a participação na 47ª edição do Festival Nacional de Folclore de Olímpia, município do interior de São Paulo distante cerca de 450 km da capital paulista. Os potiguares serão os grandes homenageados do evento, a ser realizado entre os dias 23 e 31 de julho, mas, até o momento, apenas três, dos sete grupos do RN oficialmente escalados, estão com as passagens devidamente articuladas pelo Sesc Catanduva, também de São Paulo. Hospedagem e alimentação serão oferecidas pela produção do Festival.
Isaías CarlosPrincipal grupo convidado, o Pastoril de Dona Joaquina, de São Gonçalo, destaque até no cartaz do festival, ainda não garantiu a verba para as passagensPrincipal grupo convidado, o Pastoril de Dona Joaquina, de São Gonçalo, destaque até no cartaz do festival, ainda não garantiu a verba para as passagens
Ou seja, apesar da homenagem prestada ao RN, os gestores locais ainda não confirmaram apoio. A caravana potiguar segue para Olímpia com 280 pessoas, de 22 municípios, levando na bagagem um pouco da culinária típica norte-riograndense, do artesanato, das manifestações populares e das tradições culturais que perduram de forma diferenciada no Estado - Boi de Reis, Pastoril, Congos, mamulengo, renda de bilro, rabecas, grude, tapioca, entre outras referências potiguares estão na lista.
"Os grupos de cultura popular do Rio Grande do Norte se destacam no contexto nacional por manter referências tradicionais arraigadas. Mesmo com o diálogo da cultura popular com elementos modernos, contemporâneos, é aqui que ainda são encontrados vestígios originais dos costumes seculares que desembarcaram com os ibéricos", festeja Sephora Bezerra, neta de Mestra e herdeira do Pastoril Dona Joaquina, de São Gonçalo do Amarante, grupo eleito como ícone principal do evento - inclusive, o cartaz oficial de divulgação traz estampada foto do grupo, que ainda aguarda confirmação de apoio por parte da prefeitura de São Gonçalo do Amarante para chegar até São Paulo.
Além do Pastoril Dona Joaquina, outros seis grupos deverão seguir para o interior paulista: o Pastoril Estrela do Mar, de Barra de Maxaranguape; os Cabocolinhos e os Congos de Guerra de Ceará Mirim. Os únicos que já estão de malas prontas, devido apoio do Sesc Catanduva (SP), são o Boi Calemba Pintadinho, também de São Gonçalo; e o Rei do Congo e Os Caboclos, ambos do município de Major Sales. "Esta semana deveremos receber respostas sobre as solicitações enviadas aos municípios que estarão representados no Festival", adianta Sephora, membro da Comissão Estadual de Folclore e integrante da equipe local de produção, equipe também formada por Ked Mendes, Wecsley Cunha e Márcia Moreno (representante da FJA).
O Instituto Câmara Cascudo - Ludovicus está na lista dos apoiadores, e a Fundação José Augusto se comprometeu em fornecer o material gráfico a ser distribuído durante o Festival, mas sem verba para as passagens; enquanto isso a Fundação Cultural Capitania das Artes adianta que não dispõe de recursos para colaborar com a viagem de outros dois grupos: o Araruna, das Rocas, e o Congos de Calçola da Vila de Ponta Negra.
É muito pouco diante da intenção das duas Fundações em querer transformar Natal na capital internacional durante o mês de agosto.
O galo branco e o pastoril
O Festival Nacional de Folclore de Olímpia escolheu o Pastoril Dona Joaquina (SG Amarante) para homenagear por causa da participação assídua do grupo nos últimos cinco anos do evento. Outro fator importante para a escolha do grupo é o trabalho desenvolvido com embasamento teórico. Munida de registros originais da avó e da mãe, a professora Sephora Bezerra, herdeira do Pastoril, resolveu retomar as atividades do grupo há cerca de sete anos. "O Pastoril Dona Joaquina passou 26 anos desativado, mas o grupo está renovado com a participação de filhas e netas de antigas pastorinhas. Trabalhamos na mesma linha dos mestres e estamos recuperando a paixão dos brincantes", comemora.
A figura do galo branco, visto como símbolo do artesanato e do folclore potiguar, será outro ícone bastante propagado durante o Festival.
Criado pela artesã Dona Neném, de Santo Antônio do Potengi, ainda na primeira metade do século 20, o galinho foi amplamente divulgado na época do então prefeito Djalma Maranhão. "Inicialmente a peça era utilitária, quando Dona Neném moldava uma bilha (quartinha) para guardar água no formato do galo. Só depois que o objeto passou a ser decorativo", disse Ked Mendes. "Ela fazia a peça com barro branco, e pintava motivos florais (xananas) com pigmentos orgânicos", disse. Mendes informou que o galo branco foi citado em livros por Câmara Cascudo, Deífilo Gurgel, Severino Vicente e Iaperi Araújo.
Durante o evento no interior de SP, os participantes receberão como lembrança um galinho branco de tecido produzido por professores de escola pública de Olímpia. Confira programação completa na página eletrônica www.folcloreolimpia.com.br.
Espaço potiguar vai de Cascudo a Veríssimo de Melo
A delegação potiguar, que propôs como tema central "Tradição e contemporaneidade do Folclore Potiguar", ocupará estande de 610 metros quadrados em Olímpia, batizado de "Espaço Luís da Câmara Cascudo".
Neste pavilhão serão montados espaços temáticos para ressaltar cada uma das vertentes propostas na programação: o "Espaço Veríssimo de Melo" abrigará seminários e palestras de nomes como o folclorista Severino Vicente e Anna Maria Cascudo Barreto; nos espaços "Maria do Santíssimo" e Chico Daniel" serão montadas 22 exposições fotográficas, entre as quais "Dona Militana: Imagens e Versos", "Os Mártires de Cunhaú e Uruaçu - A Saga da Fé", "Cores do Folclore Potiguar" e "Brinquedos Populares Tradicionais Potiguares".
O "Espaço Dona Militana" engloba mostra de vídeos e documentários sobre Elino Julião, Chico Daniel, Chico Antônio, entre outros.
Jesuíno Brilhante e Fabião das Queimadas, na programação
O longa "Jesuíno Brilhante", de Willian Cobett e o documentário Fábião das Queimadas", de Buca Dantas, também estão na programação; no "Espaço Nísia Floresta" haverá lançamentos de livros; enquanto a feira de artesanato ocupa o "Espaço Dona Neném". A casa de taipa personifica o "Espaço Chico Antônio"; os artistas populares (rabequeiros, emboladores, mamulengos) estarão acomodados no "Espaço Fabião das Queimadas"; e a culinária típica está garantida no "Espaço Ginga com Tapioca".
Fonte: Tribuna do Norte